Uma radiografia dos nossos gargalos estruturais
O Brasil é um país de paradoxos. Detentor de vastos recursos naturais, com uma população jovem e empreendedora, e dono de um mercado interno robusto, o país parece ter todos os ingredientes para crescer de forma acelerada e sustentável. No entanto, a realidade é bem diferente. A economia brasileira cresce pouco, de forma intermitente e, muitas vezes, abaixo da média mundial. Por que isso acontece?
Neste artigo, vamos explorar os principais gargalos estruturais que travam o crescimento econômico do Brasil e discutir caminhos possíveis para destravar esse potencial.
Burocracia excessiva e insegurança jurídica
Abrir, manter e encerrar uma empresa no Brasil é uma verdadeira maratona. O tempo e o custo envolvidos em processos burocráticos são altíssimos. Leis contraditórias, excesso de regulamentações e um sistema tributário caótico desestimulam o investimento e aumentam a incerteza.
A insegurança jurídica, com mudanças constantes nas regras e interpretações legais, cria um ambiente de instabilidade para empresas e investidores. Isso se traduz em menos inovação, menos expansão e menos empregos.
Sistema tributário ineficiente
O Brasil tem uma das cargas tributárias mais complexas do mundo. Além do peso, a confusão de tributos federais, estaduais e municipais gera ineficiências, aumenta os custos de conformidade e desincentiva a formalização.
Empresas gastam, em média, mais de 1.500 horas por ano apenas para cumprir obrigações fiscais — um número alarmante comparado à média da OCDE, que gira em torno de 150 horas. Isso significa menos tempo para produzir, inovar e crescer.
Infraestrutura precária
Apesar de seu tamanho continental, o Brasil ainda carece de infraestrutura básica: estradas ruins, portos lentos, ferrovias insuficientes e logística cara. O transporte de mercadorias é ineficiente, impactando toda a cadeia produtiva.
A deficiência energética e o alto custo da eletricidade também desestimulam a instalação de indústrias e impactam a competitividade internacional dos nossos produtos.
Educação e produtividade
Nos testes internacionais, como o PISA, o desempenho dos estudantes brasileiros é consistentemente inferior à média global. A má qualidade da educação impacta diretamente a produtividade da força de trabalho, e produtividade é a alma do crescimento econômico.
Além disso, há descompasso entre o que é ensinado e o que o mercado exige, o que gera alto desemprego entre jovens e escassez de mão de obra qualificada ao mesmo tempo.
Baixa taxa de investimento
O Brasil investe pouco. A formação bruta de capital fixo gira em torno de 18% do PIB, muito abaixo dos 25% a 30% observados em países que crescem de forma sustentada. Falta investimento em infraestrutura, tecnologia, capital humano e inovação.
Essa escassez é agravada pela instabilidade fiscal, que afasta investidores externos e internos, e pela alta taxa de juros, que encarece o crédito e desestimula o risco.
Desigualdade e concentração de renda
Um país com tanta desigualdade tem um mercado interno limitado. Quando a renda se concentra em poucas mãos, o consumo de massa é afetado. A mobilidade social reduzida também gera frustração, insegurança e baixa confiança no futuro — o que impacta decisões de consumo e investimento.
Além disso, políticas públicas mal desenhadas perpetuam essa desigualdade, tornando o crescimento mais lento e mais excludente.
Instabilidade política e falta de continuidade nas políticas públicas
As trocas frequentes de prioridades econômicas e a politização de decisões técnicas geram rupturas que minam o planejamento de longo prazo. A cada novo governo, há uma espécie de “reinício” da estratégia de desenvolvimento, o que atrapalha a execução de reformas estruturais e a atração de investimentos.
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