O Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo — um título nada invejável que, ano após ano, afeta diretamente o ambiente de negócios e inibe o crescimento do empreendedorismo. Enquanto países desenvolvidos mantêm juros baixos para estimular a economia, por aqui a política monetária restritiva impõe sérios obstáculos para quem deseja abrir ou expandir um negócio.
Mas afinal, como exatamente os juros altos impactam os empreendedores brasileiros?
Acesso ao crédito: um privilégio caro
O primeiro e mais óbvio efeito dos juros elevados é o encarecimento do crédito. Para muitos empreendedores, especialmente os de pequeno e médio porte, o capital de giro vem de financiamentos bancários. Com Selic nas alturas, os bancos aumentam seus spreads e o custo final dos empréstimos se torna proibitivo.

Na prática, isso significa que um pequeno empresário que precisa de R$ 50 mil para investir no próprio negócio pode acabar pagando quase o dobro desse valor ao final de um financiamento de médio prazo. Isso desestimula a tomada de risco e atrasa o desenvolvimento de novos projetos.
Redução da demanda por bens e serviços
Juros altos também impactam o consumo. Quando o crédito ao consumidor encarece, as famílias tendem a segurar os gastos, o que afeta diretamente a receita das empresas. Para os empreendedores, isso representa menor volume de vendas e mais dificuldade para atingir o ponto de equilíbrio do negócio.
Setores como varejo, construção civil, turismo e bens duráveis sentem esse efeito com mais intensidade — e são justamente esses os setores onde muitos pequenos empreendedores estão concentrados.
Desigualdade no acesso ao capital
Empresas maiores, com mais garantias e histórico de crédito sólido, conseguem negociar condições melhores junto aos bancos. Já os pequenos empreendedores — muitas vezes informais ou iniciantes — enfrentam um sistema financeiro que exige garantias difíceis de apresentar.
Isso cria um ambiente desigual, onde o acesso ao capital se torna um diferencial competitivo, e não uma ferramenta disponível para todos que querem crescer. É o famoso “quem já tem, consegue mais; quem precisa, paga caro ou nem consegue”.
Insegurança para investir
Além dos efeitos diretos, a própria volatilidade da taxa de juros gera insegurança. Em um país onde as regras mudam com frequência e onde o custo do dinheiro pode disparar de um semestre para o outro, muitos empreendedores preferem postergar investimentos e “esperar para ver”.
Essa postura cautelosa impede que o país desenvolva uma cultura empreendedora mais vibrante e inovadora. A falta de previsibilidade econômica se torna uma barreira cultural para o risco — o que vai na contramão do espírito empreendedor.
O ciclo vicioso da estagnação
A consequência disso tudo é um ciclo perverso: juros altos reduzem o empreendedorismo, o que reduz a geração de empregos e renda, o que reduz o consumo, o que pressiona ainda mais a economia e gera a necessidade (alegada) de manter juros altos. Um nó difícil de desatar, mas que exige soluções estruturais.
E o que poderia ser feito?
- Política monetária mais equilibrada, que leve em conta não só a inflação, mas também o crescimento e o emprego.
- Acesso ao crédito subsidiado e desburocratizado, especialmente para pequenos negócios.
- Incentivo à inovação financeira, como fintechs e cooperativas de crédito.
- Educação financeira e técnica para que os empreendedores saibam gerir melhor seus recursos.
O empreendedorismo é, em muitos sentidos, a força vital da economia. No Brasil, essa energia é constantemente minada por um ambiente financeiro hostil. Romper com a lógica dos juros elevados como solução universal exige coragem política, visão de longo prazo e, acima de tudo, a compreensão de que o crescimento sustentável precisa ser construído por todos — e para todos.
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