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A Economia do Cuidado: Por Que Ela Importa (e Ainda é Invisível)?

O trabalho que sustenta a sociedade, mas raramente entra nas contas do PIB

Quem cuida das crianças, dos idosos, das pessoas doentes? Quem prepara refeições, limpa a casa, lava roupas, apoia emocionalmente? Esse conjunto de tarefas, tradicionalmente atribuídas às mulheres, é chamado de trabalho de cuidado. E embora ele seja essencial para o funcionamento da sociedade e da economia, permanece largamente invisível, subvalorizado e não remunerado.

Neste artigo, vamos explorar o que é a economia do cuidado, por que ela é tão importante para o desenvolvimento social e econômico e o que pode ser feito para torná-la mais visível, justa e compartilhada.


O que é a economia do cuidado?

A economia do cuidado abrange atividades relacionadas à manutenção da vida e do bem-estar das pessoas, como:

Cuidar de crianças, idosos e pessoas com deficiência

Tarefas domésticas (limpeza, alimentação, organização)

Apoio emocional e psicológico dentro da família

Trabalho profissional em creches, escolas, hospitais e abrigos

Esse trabalho pode ser remunerado (por exemplo, uma cuidadora profissional) ou não remunerado (como uma mãe que cuida dos filhos em tempo integral). Em ambos os casos, ele é essencial — mas ainda não é tratado como um pilar central da economia.


Por que o cuidado é invisível na economia tradicional?

A maioria dos indicadores econômicos, como o Produto Interno Bruto (PIB), não contabiliza o trabalho não remunerado, mesmo que ele seja responsável por milhões de horas diárias e seja indispensável para que outras pessoas possam trabalhar fora de casa.

Essa invisibilidade tem raízes históricas e culturais, associadas a uma divisão de gênero que coloca o cuidado como “natural” às mulheres — e, portanto, sem valor monetário.


Quem faz o trabalho de cuidado?

Segundo dados da ONU e da OIT, as mulheres realizam, em média, 3 vezes mais trabalho de cuidado não remunerado do que os homens. Em países da América Latina, essa proporção pode ser ainda maior.

Isso gera dupla jornada, desigualdade de gênero, limitação no acesso a empregos formais e redução de renda ao longo da vida.

Além disso, mulheres negras e de baixa renda são as mais sobrecarregadas — tanto no cuidado de suas próprias famílias quanto no trabalho remunerado como cuidadoras em casas de famílias mais ricas.


Por que valorizar a economia do cuidado é urgente?

Valorizar o cuidado é fundamental por diversos motivos:

Justiça social: garantir que quem cuida também tenha direitos, renda e tempo para si.

Desenvolvimento econômico: mulheres livres do cuidado excessivo podem participar mais do mercado de trabalho.

Qualidade de vida: sociedades que cuidam melhor têm mais bem-estar, saúde e educação.

Envelhecimento populacional: com mais idosos, a demanda por cuidado só vai crescer.


O cuidado é gasto ou investimento?

Muitos governos ainda tratam políticas públicas de cuidado (creches, licença maternidade, serviços sociais) como custos. Mas a verdade é que investir em cuidado gera retorno:

Cria empregos formais (principalmente para mulheres)

Aumenta a produtividade e a renda familiar

Reduz desigualdades e melhora indicadores sociais

Garante que crianças, idosos e dependentes tenham suporte adequado

Ou seja: cuidar também é economia.


Caminhos para uma economia do cuidado mais justa

Algumas medidas essenciais para transformar essa realidade incluem:

Reconhecer o cuidado como trabalho essencial

Contabilizar o trabalho de cuidado nos indicadores nacionais

Ampliar e qualificar serviços públicos de cuidado (creches, saúde, apoio a idosos)

Reformar leis trabalhistas para permitir divisão equitativa entre homens e mulheres

Educar desde cedo para quebrar estereótipos de gênero



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